sexta-feira, 13 de abril de 2012

POR QUE UM CACHORRO CHEIRA O RABO DO OUTRO? *


E Deus convidou os cães para uma festa no céu. Cães de todas as partes do recém-criado universo, logo ali depois que Moisés inventou o jornalismo-literário ao narrar o Gênesis.
Cães de todas as classes, cores e tamanhos. Do fiel pulguento que lambe a boca do bêbado do Largo do Glicério ou da Batata ao cãozinho liberal do sr. Adam Smith. Deus mata, mas não discrimina.
Daqueles cachorros magros do mercado da Encruzilhada, na frente do restaurante Bode Dourado, fina iguaria do Hellcife, aos cães que farejam as cabeças caprinas e os tutanos finais dos sacrifícios religiosos, deuses que dançam as reinvenções da existência como um moonwalk de Michael Jackson, o maior passo do homem na terra. 
Uma festa pra valer de todos os cachorros do mundo, não é brincadeira. A justa farra da baba felina. 
Na chegada ao paraíso, uma placa, além do possante alto-falante babélico, avisava em todas as línguas do mundo: nobre cachorrada, favor guardar o fiofó na chapelaria. Por ordem do asséptico Todo-Poderoso, justíssimo, nenhum cão, por mais asseado que fosse, poderia adentrar o recinto com o seu formiróide. O chapeleiro de Alice cuidava em catalogar os anéis caninos conforme o pedigree, pregas de classe.
Como não iriam precisar de fiofós na celebração com o Senhor, os cães -até mesmo aquele cachorrinho chato e mnemônico do velho Ulysses-  acataram a ordem sem maiores choramingas. Partes pudendas guardadas, distribuídas as cortiças para vedar as catingas do eu-profundo-animal, começou, então, a grande fuleiragem canina. Pense numa esculhambação de verdade! 
Andava tudo tão bonito, festa linda mesmo, um baile divino... até que um cão selvagem começou a cachorrada, a patifaria, a fuzarca, o funarére. A lenda é que o responsável inicial pela bagunça foi aquele dos caninos brancos do velho Jack London, cria chegada no mesmo combustível do dono, uma bagaceira, uma cana, uma aguardente que anima criaturas de todos os reinos.
Ao riscar da faca, um revestrel de fazer Deus pequeno, anão e invisível. Como quem tem cu tem medo, os cães saíram em desabalada carreira. Naquela agonia toda, a chapelaria veio abaixo. Cada um pegou o fiofó que encontrou ali no chão, o furico possível. O importante era não descer à terra, o planeta azul como visto lá de cima, desprovido, pois como todo mundo sabe, um oiti aqui faz muita falta. Melhor um fiofó alheio, um cu postiço, contra a vontade, do que viver sem a importantíssima retaguarda para o resto da vida.
Moral da fábula, segundo a oralidade popular sertaneja aqui humildemente resgatada: desde aquele dia, desde aquela bagunça divina no céu, quando um cachorro encontra outro (cachorro), a primeira coisa que faz é cheirar o rabo do semelhante. Uma eterna e paciente busca do próprio fiofó, uma procura  que deve durar até o juízo final, século seculorum, amém.

* versão pueril e putrita da narrativa que deu em conto para a "Antologia Bêbada -fábulas da Mercearia" (edição da bravíssima e genial Ciência do Acidente, leia-se Tejon & diabruras gutenberguianas, ano da graça de 2003, por supuesto.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Refletindo Pelado Com os Morcegos do Telhado

       
       Só mesmo os povos embrutecidos pela superstição machista, reza o marquês, podem não acreditar na poesia. E acreditar no contrário é ir contra a nossa própria natureza.
 
Vida e morte em quatro atos
 
i. Zen no último

Contemplo a lua
Enquanto cago
Na beira do lago


ii. Divã

Que coisa feia
Complexo de édipo
Com a mãe alheia


iii. Último forró em sapopemba

Minha nega
Contigo me derreto
Qual manteiga

iv. O desprezo

Não tem consolo
Mas um dia eu te atinjo
Nem que seja com um tijolo
 
 
 

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Palavras Ternas Para Corações Brutos.

Cuba libre e uma canção de amor, quem há de resistir?


               Hoje ao amanhecer, observando minha linda esposa e companheira, presenciei um dos momentos mais simples, delicados e bonitos de uma mulher. Aquele instante em que a sandália fica suspensa entre o pé e o ar, quase caindo mesmo, em um equilíbrio milagroso da distração feminina. A visão perfeita dos dedos e da curvatura da sola do pezinho. Meu Deus do céu. Nada mais sexy e sedutor para quem sabe apreciar tamanha delicadeza.