quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Postzinho vagabundo e pretensiosamente culto

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Eu ando às voltas com os livros novamente. Consequentemente, eu só penso em livros, poemas e etc. novamente. Aí me deu vontade de postar algum poema maneiro aqui. Pensei em algum, resolvi postar um texto do Drummond, chamado "A Banda", que fala sobre - adivinhe - "A Banda", do Chico Buarque. Mas dificuldades técnicas (lei-se "preguiça de procurar o poema na net e mais preguiça ainda de digitar todo o texto") me impediram de cumprir tal propósito. Fica pra próxima. Até mesmo porquê eu subitamente lembrei que as músicas do Chico são belas poesias, antes de mais nada. De forma que eu resolvi postar o link das músicas "Construção" e "Deus lhe Pague". Elas estão juntas, então eu coloquei suas respectivas letras juntas. Escutem, curtam, baixem (lembrem-se: é ilegal) e leiam. E lembrem-se de desligar a rádio ali do lado pra conseguirem ouvir a música, senão seus ouvidos vão virar uma bagunça dos infernos. Lembrem-se também que tudo o que a gente precisa é amor.

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http://www.mp3tube.net/musics/Chico-Buarque-Construcao/33222/



Construção

Chico Buarque


Amou daquela vez
Como se fosse a última
Beijou sua mulher
Como se fosse a última
E cada filho seu
Como se fosse o único
E atravessou a rua
Com seu passo tímido
Subiu a construção
Como se fosse máquina
Ergueu no patamar
Quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo
Num desenho mágico
Seus olhos embotados
De cimento e lágrima
Sentou prá descansar
Como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz
Como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou
Como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou
Como se ouvisse música
E tropeçou no céu
Como se fosse um bêbado
E flutuou no ar
Como se fosse um pássaro
E se acabou no chão
Feito um pacote flácido
Agonizou no meio
Do passeio público
Morreu na contramão
Atrapalhando o tráfego...

Amou daquela vez
Como se fosse o último
Beijou sua mulher
Como se fosse a única
E cada filho seu
Como se fosse o pródigo
E atravessou a rua
Com seu passo bêbado
Subiu a construção
Como se fosse sólido
Ergueu no patamar
Quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo
Num desenho lógico
Seus olhos embotados
De cimento e tráfego
Sentou prá descansar
Como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz
Como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou
Como se fosse máquina
Dançou e gargalhou
Como se fosse o próximo
E tropeçou no céu
Como se ouvisse música
E flutuou no ar
Como se fosse sábado
E se acabou no chão
Feito um pacote tímido
Agonizou no meio
Do passeio náufrago
Morreu na contramão
Atrapalhando o público...

Amou daquela vez
Como se fosse máquina
Beijou sua mulher
Como se fosse lógico
Ergueu no patamar
Quatro paredes flácidas
Sentou prá descansar
Como se fosse um pássaro
E flutuou no ar
Como se fosse um príncipe
E se acabou no chão
Feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão
Atrapalhando o sábado...


Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir
A certidão pra nascer, e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir
Deus lhe pague

Pelo prazer de chorar e pelo "estamos aí"
Pela piada no bar e o futebol pra aplaudir
Um crime pra comentar e um samba pra distrair
Deus lhe pague

Por essa praia, essa saia, pelas mulheres daqui
O amor malfeito depressa, fazer a barba e partir
Pelo domingo que é lindo, novela, missa e gibi
Deus lhe pague

Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça, desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes, pingentes, que a gente tem que cair
Deus lhe pague

Por mais um dia, agonia, pra suportar e assistir
Pelo rangido dos dentes, pela cidade a zunir
E pelo grito demente que nos ajuda a fugir
Deus lhe pague

Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas-bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir
Deus lhe pague...





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2 comentários, puxa-saquismos, críticas...:

Anônimo disse...

"livros" me lembra "montcharles"...
e o "montcharles" faz questao de me lembrar de "livros verdes".


All we need is looove, loove! ♥

Anônimo disse...

carazevedo passou por aqui...........